segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Parte 8 - Música Contemporânea para Violão em Livros... Teresinha Prada

Violão: de Villa-Lobos a Leo Brouwer
Editora: Terceira Margem, CESA, São Paulo, 2008
Autoria: Teresinha Prada

Finalizando essa temática de Villa-Lobos como um nome que abriu caminhos para o violão na música contemporânea, dou espaço agora para meu livro, publicado em 2008. O livro é uma adaptação de minha dissertação de Mestrado defendida em 2001 na Universidade de São Paulo, no programa interdisciplinar de Integração da América Latina, na linha de Comunicação e Cultura.

Vimos nos posts anteriores que autores consagrados na academia confirmam a obra de Villa-Lobos como um preâmbulo a novas possibilidades do violão. Em meu livro, baseio-me na maioria destes autores para estabelecer tal característica de Villa-Lobos, porém caminho um pouco mais e encontro essa obra vanguardista refletida na produção de Leo Brouwer.

Tal reflexo não consiste só na vigência de um ambiente prévio de sonoridades villalobianas possibilitando uma atmosfera propícia a Brouwer, mas também uma entrega de “comando”, uma extensão, ou seja, de que após a estonteante trajetória de Villa-Lobos, é em Leo Brouwer que vamos encontrar o frescor de uma criação inovadora, deslocada de um lugar-comum no violão, assumindo a ponta de conceitos técnicos e artísticos, modificando o meio musical do violão.

Logo na Introdução, defendo que:


Falar de Villa-Lobos e Leo Brouwer é falar da América Latina, do que ela tem de mais significativo: a manifestação do novo, não como evolução, mas como acumulação. As teorias culturais que explicam a América Latina, esse lugar da “contra-conquista”, como disse Lezama-Lima, mostram o quanto somos cumulativos em nossa heterogeneidade e é isso que nos aproxima em definitivo.

Assim, em meu livro, ofereço um capítulo inicial de contexto histórico, embasado em estudos culturais interdisciplinares que já revisam a posição da América Latina frente a uma cultura de dominação; são pontos importantes que estabelecem a questão artística dentro de um panorama cultural politizado, de enfrentamentos de situações raramente tratadas em um livro da área musical, mas creio ser de importância para a melhor compreensão do que nos faz latino-americanos.

No capítulo seguinte, reitero muito do que já havia sido escrito sobre Villa-Lobos e passo a fazer um levantamento das características de Brouwer ao encontro do Novo, nesse seu repertório consubstancial, no que creio ter empreendido uma hipótese, de que em comparação com seus contemporâneos, Leo Brouwer realiza uma obra inovadora e em grande quantidade, perfazendo um material suficiente para se equiparar ao montante de obras então ainda românticas atreladas ao meio violonístico.

Para aprofundar o estudo, do total da produção violonística de Villa-Lobos e Leo Brouwer, abordei duas obras representativas de cada fase de suas carreiras (seis peças de cada autor), porém citando algumas das músicas e ideias mais relevantes que acompanharam esses momentos.

Foi especialmente interessante em Brouwer estudar a história e a geopolítica de Cuba, assunto ainda vivo devido aos inúmeros revezes da diplomacia internacional. Seu posicionamento político e ideológico pró-revolução, suas raízes holandesas e cubanas são fatos inerentes à sua obra, ao seu ofício, num saldo que mistura e interage com mundos aparentemente díspares, mas que na verdade transbordam de referências, de experiências, de multiplicidades, traços característicos de um intelectual e artista cubano de primeira grandeza como ele.

Os rompantes da escrita moderna de Leo Brouwer já surgem nas suas primeiras obras, aproximando-se de uma série de “incertezas”, oscilando entre nacional e vanguarda, indefinindo tonalidades, na incompletude e mistura de formas, abrindo-se a estilos, a referências de culto e de popular. Essa característica caminha para ser um elo, um acordo com as sonoridades mais “atomizadas”, em fins dos anos 60, entrando para o seleto meio experimental mais radical na década de 70. No início dos anos 80, na volta a meios tradicionais da chamada Nova Simplicidade, vamos encontrar um Brouwer ainda mais aberto, a tudo que ele desejar fruir ou experimentar em suas obras.

Termino meu livro retomando algumas características da criação em ambos compositores, que considero como possíveis de comparação:  
Nacionalismo, Vanguardas, Retorno, Política e Violão.

Fiz o lançamento durante o I Festival Internacional de Violão “Leo Brouwer” da Universidade de São Paulo e Instituto Cervantes, em 2008, a convite de Edelton Gloeden, na presença do próprio Leo Brouwer, o que muito me honrou. 

A edição do livro está praticamente esgotada. Provavelmente pode ser encontrado em bibliotecas de universidades e centros musicais.




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